sábado, maio 15, 2010

A Profissão de Fé do Vigário Saboaino


A Profissão de Fé do Vigário Saboiano (Do Emile, Emílio ou da Educação, de Jean Jacques Rousseau, 1755) é um texto que conduz à introspecção, ao pesar das forças que a Igreja exerce sobre seu fiel – sem que este tome consciência exata de suas dimensões. Nele, Rousseau nos apresenta o conhecimento que o Vigário adquire através de um longo e penoso processo de meditação que o leva a perceber profundamente seus sentimentos. Na defesa de que o encontro com Deus se faz a partir de sentimento sincero e não de leis externas, impostas à força e à revelia, Rousseau, na figura do Vigário Saboiano, relata o desabrochar de uma relação íntima, segura e realizada entre um homem e seu Deus.
Em um diálogo entre o Vigário e um expatriado calvinista, que forçou-se à conversão para poder garantir seu sustento e sobrevivência, o texto oferece-nos uma visita às possibilidades da dúvida e da confusão.
Num processo contínuo, Rousseau inicia sua meditação duvidando de absolutamente tudo que aprendera e fora induzido a crer ao longo sua vida, e atinge o ponto em que nada lhe faz sentido, sendo a incerteza seu marco de chegada. Perdido em sua grande confusão, causada pelos ensinamentos da Igreja (que corrompe, humilha, julga etc), ele inicia um processo de aceitação daquilo que o seu coração lhe diz – o que lhe parece naturalmente verdadeiro e irrefutável. Depois de aceitar sua própria existência, que reconhece através dos sentimentos que o afetam diretamente, ele observa a natureza, a ação e reação de suas forças, e admite que há uma vontade que move o universo e a anima.
Em seguida, reconhece a existência de objetos que ele pode observar, perceber e comparar. Distinguindo entre o perceber e o comparar ele defende que o primeiro é passivo, pois que se limita às sensações e o segundo ativo, uma vez que exige a ação da mente: “agir, comparar, selecionar são operações de um ser ativo e pensante, logo este ser existe”.
Sem a intenção de converter o outro, o Vigário fala apenas daquilo que o seu coração sugere – com muita simplicidade e sem profundos argumentos e pede ao ouvinte que consulte seu próprio coração, para que ateste a verdade de suas palavras.
Defendendo a consciência, ele defende a voz do coração, como superior àquilo que ensina as religiões, pois que aquela voz segue a ordem da natureza ao invés da ordem dos homens.
Em acordo com os ideais do Iluminismo, Rousseau, propõe o pensamento racional em substituição às crenças religiosas que, segundo os iluministas, bloqueavam a evolução humana. Assim, em seu processo racional, o Vigário Saboiano busca respostas que se justificassem para além da fé.
Acreditando, ainda que o homem é por natureza puro, os iluministas diziam que a sociedade o corrompia, portanto, haviam de manter-se puros e fiéis aos seus corações – à natureza e a Deus, de quem é imagem e semelhança.

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