sábado, maio 15, 2010

“Are you a Teacher? Teach them!"


Recesso escolar – Janeiro de 1994. O SENAC São Paulo traz como palestrante, pela segunda vez, a professora inglesa, Jane Revell, autora de três séries de livros didáticos para o ensino do inglês para estrangeiros . No início do ano anterior, quando de sua primeira vinda ao Brasil, uma série de professores de inglês, entre eles eu, adquiriam os livros de Jane para ensino de inglês para crianças (Muzzy in Gondoland 1 e 2), pré adolescente (Cross Country 1; 2 e 3) e jovens (Connect 1; 2 e 3). Ao vê-la, nessa segunda oportunidade, eu tinha um “enorme problema” para entregar a ela – e uma igualmente enorme esperança de que o solucionasse. “As pessoas” não sabem o que são “somosas”, quem é Rene Magritte ou Sherazad, onde fica Majorca, se Boy George é homem ou mulher, que países da Europa ainda têm a monarcas... A grande dificuldade que apresentei a Jane, na época, tinha uma razão de ser – justa e justificável – no meu ponto de vista. Os livros de Jane eram (e ainda são) cheios de informações culturais. Eles traziam arte, costumes do ocidente e do oriente, músicas celtas e rock and roll de porão, etiqueta, informações sobre o dia a dia na Inglaterra e outros países etc. A grande dificuldade era: como conversar com os alunos sobre todas essas coisas das quais eles, em sua grande maioria, nunca ouviram falar – e nem sequer se interessavam em saber? Jane olhou-me nos olhos e perguntou: Are you a teacher?, acrescentando, depois de minha resposta positiva: Teach them!
Todo aquele conteúdo maravilhosamente montado tinha o objetivo de levar não somente aos “estudantes de inglês”, mas aos povos onde o inglês já se infiltrava de maneira irreversiva, cultura, arte, história, compreensão das diferenças entre os diversos povos, diferenças entre as pessoas – “cultura para tolerância”.

Mestrado em Educação - Maio de 2009. Gianni Vattimo me é apresentado como um pós-modernista, suas ideias, como ele mesmo diz, já foram discutidas há 125 anos, por Wilhelm Dilthey. Vattimo propõe uma reforma no ensino. Ainda que não faça uso dessa expressão, sua proposta é uma reforma – uma transformação da escola em suas metas e diretrizes. O objetivo já não é formar técnicos especialistas, como ditava a velha ordem positivista, o comando colonialista, eurocentrado ou (Vattimo também não diz, mas atrevo-me a incluir) centrado no poderio norte-americano. De acordo com Vattimo e a linha de seguidores da nova proposta, há que se formarem cidadãos cultos – e aqui fala-se de uma cultura que vai para além do conhecimento específico do objeto sobre o qual se trabalha – seja uma máquina, um departamento ou toda uma empresa. A crescente aproximação do povos, das culturas, dos saberes, das filosofias e, de forma bem mais delicada, das religiões tem trazido consigo a necessidade urgente de humanização nos relacionamentos.
Para ilustrar sua posição, Vattimo cita a entrada de albaneses na Itália – homens e mulheres que além de não terem uma formação profissional adequada às necessidades daquele país, ainda enfrentam situações de clara e profunda incompatibilidade. O quê, além da educação hermenêutica (conforme o conceito de Richard Rorty), poderia superar os limites impostos pela incompatibilidade (ou intolerância)?
Os seres humanos talvez nunca tenham deixado de ser humanos – na racionalidade e irracionalidade que nos caracteriza (embora às vezes tenhamos a impressão que isso aconteceu aqui e ali...). Mas, também, talvez nunca tenhamos estado tão próximos uns dos outros em tempo de paz, tempos que já não admitem conquistas das terras de uns por outros, conquistas de povos, escravidão humana, domínio imposto - de um sobre muitos. As conquista tecnológicas, a ciência, com toda sua “sabedoria”, a vitória do capitalismo – o percurso da humanidade ao longo de sua história trouxe-nos para este ponto onde estamos no momento presente. Contudo, em acordo com Vattimo penso que a escola deve retomar as humanidades, para que os homens e as mulheres possam utilizar, de forma mais consciente, todo o fruto daquelas conquistas, que possam “cooperar conscientemente para dar à sociedade a forma” que desejamos.
E os professores? O que lhes compete? Compete-lhes “ensinar”.

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