quarta-feira, março 30, 2011

Sou especial!

Acabo de me convencer – definitivamente: sou uma pessoa muito especial.
Nasci mulher no século XX, entrei mulher madura no século XXI, atravessei namoros malfadados, casamentos, partos, divórcios, viuvez.
Sinto inveja, ciúme, inseguranças, medos... Não tenho medo das ameaças do “fogo do inferno” proclamadas por religiões – não temo Deus – meu medo é talvez de mim – do tão especial que sou.
Meu Deus é bom – aliás, nem bom ele é. Meu Deus é tão superior, que dizê-lo bom, isso sim, é heresia. Meu Deus criou tudo o que houve, o que há e o que será – tudo parece estar pronto em seus planos.
Mas eu sou especial – sou especial porque fui criada assim, plena de consciência de meu eu – ainda que perdida em meus desencontros com partes de mim.
Sinto a vida como sendo plenamente minha. De meu barco a capitã sou eu – ainda que outro seja quem os ventos e as marés controle.
Sou muito especial – por minha intectualidade e minha estupidez.
Sou especial na insignificância de minha existência neste universo maravilhoso em que um pó de mim se faz carne.
Fiz filhos que me fizeram (ou farão) netos, fiz artes, ainda que medíocres, fiz amigos – dos melhores –, sou vizinha, amiga, filha, mãe, irmã, avó... sou eu quem se senta ao seu lado nos ônibus, nos trens, na sala de aula, no banco de espera do dentista.
Sou muito especial.
Já dormi com a traição e sanei aquele que me apunhalou, já fiz de mim serva e senhora, conheci a noite das esperanças e o amanhecer do amor.
Sou mesmo muito especial.
De minha vida, quando um dia me for, levarei tanta saudade que talvez, só, não possa carregar.
Amei homens e amei flores – de mulheres fiz espelhos, de crianças arco-iris, das dores fiz escadas e das alegrias longas estradas.
De mim saíram dois – mas não foram só os dois – de mim saíram mais – saíram risos e sorrisos, lágrimas e tantos sonhos...
Por vezes sinto que são deles – dos sonhos – que vivo.
Sonhos bons e sonhos maus – sonhos meus todos eles.
Que não tente sonhar por mim outro que não seja tão especial.
Eu sou muito especial.
Sei tantas coisas neste mundo; sei coser, cozinhar, escrever, falar, “amigar”, amar, desejar; sei dizer sim e dizer não, indicar direções que desconheço – e acertar!
Sei errar.
Sei pecar.
Sei ser eu mesma, e me perder.
Como sou especial...
Mas, não veja nisso arrogância – não, há aqui um olhar bastante especial sobre alguém que se sabe frágil e forte, audaciosa e temerosa (não da morte, não da dor, nem vida ou do trabalho) – temerosa não de um Deus covarde e vingativo, mas de sua própria pequenez, tão grande... porque mesmo sendo tão especial – pouco capaz sou de dizer a mim a mesma “Te amo”.

Te amo muito!


(Maria Lígia Conti – em noite de alguma lua – acho que tem lua... 29/03/2011 :-)